Aos que ficaram após alguém amado ter partido por suicídio
- fernandacruz2
- 21 de set.
- 3 min de leitura

Por Ladyjane Brasileiro
Psicóloga Clínica – CRP 11 -19514
Mestra em Psicologia - Unifor
@ladyjanebrasileiro
Receber a notícia da morte de alguém amado, por mais que venha diante de um quadro de saúde grave e irreversível, é abrir uma ferida, é sentir uma queimadura tão ampla e profunda que parece não cicatrizar.
Há mortes, porém, que nos pegam de surpresa, sejam elas por acidentes, pelo impacto de uma violência infligida ou pelo suicídio.
Em todas elas perde-se alguém, mas é no suicídio e somente nele, que essa morte é provocada pela própria pessoa.
O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo que visa a conscientização da prevenção do suicídio. Muito tem se falado em estratégias, recomendações, sinais de alerta a esse respeito. Aqui, nos propomos a pensar no outro lado, ou seja, nos que ficam.
A isso chama-se posvenção que se caracteriza, de acordo com Shneidman, 1973, como toda e qualquer ação que objetive auxiliar as pessoas afetadas por um suicídio e é composta por uma rede de atenção, suporte, atividades e assistência direcionada aos cuidados da saúde mental dos que ficam. Chama-se de sobrevivente “as pessoas que perderam alguém significativo por suicídio e aquelas que tiveram a vida afetada ou mudada por causa dessa morte são consideradas sobreviventes” (Vita Alere). A literatura especializada aponta que um suicídio pode deixar até 135 pessoas impactadas.
Sobre o luto, recorremos à Freud (1917 [1915] /2010), em seu texto Luto e Melancolia, quando ele nos diz, “luto é a reação à perda de uma pessoa ou de uma abstração que ocupa seu lugar, como pátria, liberdade, um ideal...” e que “o luto profundo, a reação à perda de um ente amado, comporta...a perda do interesse pelo mundo externo” (p.172-173).
O luto pelo suicídio apresenta diferenças significativas diante de outros lutos. Os sobreviventes têm que lidar com julgamento e estigma, da busca incessante do porquê, com a culpa e isolamento. vergonha, autoacusações dentre tantos outros sentimentos depreciativos (Vita Alere). Sem saber o que fazer, pessoas próximas se afastam. É um estranhamento e ausência de palavras que contribuem ainda mais com a sensação de abandono.
Chegamos ao final dessa reflexão trazendo um questionamento quando o próprio Freud nos alerta que diante da realidade que “o objeto amado não mais existe”, o trabalho de luto “exige que toda a libido seja retirada de suas conexões com esse objeto (p.173). Mas como se desligar dessa pessoa que decidiu a sua forma de partir?
A resposta não está pronta, ela se apresenta como construção feita por várias mãos. O trabalho de posvenção aponta como um caminho possível ao cuidar dos sobreviventes, escutando-os, aconselhando em assuntos práticos, oferecendo suporte com profissionais de saúde mental e dando oportunidade de conversar com outras pessoas que estão enlutadas por suicídio (Vita Alere).
Assim, para além do Setembro Amarelo, sugerimos conhecer o trabalho desenvolvido por esses institutos na prevenção e posvenção ao suicídio na esperança de que o sobrevivente abra a possibilidade de continuar a viver.
Institutos
https://vitaalere.com.br/ - instituto de promoção em saúde mental que se destaca como referência em prevenção e posvenção do suicídio
Cartilha: Orientações para o cuidado ao luto por suicídio em https://vitaalere.com.br/wp-content/uploads/2024/07/Cartilha-Posvencao-e-Cuidado-ao-Luto-por-Suicidio-Vita-Alere.pdf
@institutobiadote – desenvolvem várias ações dentre elas: Grupo de apoio aos enlutados por suicídio e plantão psicológico
Referências
Freud, S. (1917 [1915] /2010). Luto e Melancolia. In Introdução ao Narcisismo. Vol 12. Companhia das Letras.
Shneidman, E. !973). Deaths of a man. New York: Quadrangle
Sobre suicídio – Posvenção. In https://vitaalere.com.br/sobre-o-suicidio/posvencao/


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