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BRINCADEIRA É COISA DE CRIANÇA

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Por Juliana Calazans Spartani, psicanalista, membro da Litoral - Escola de Psicanálise. Atende crianças, adolescentes e suas famílias.


Brincadeira é “coisa de criança” e de adulto também! É muito importante a qualidade

das brincadeiras entre pais e filhos.


“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua

liberdade de criação.” D. W. Winnicott.


Winnicott foi um importante pediatra que se dedicou ao desenvolvimento

infantil. Seus estudos o levaram a entrar em contato com diversas teorias, dentre elas, a psicanálise, com a qual contribuiu amplamente. Dentre suas maiores contribuições sobre o desenvolvimento infantil, destaco aqui a ênfase que deu ao ato de brincar das crianças.


Desde que nascemos, brincamos. É possível observar um bebê de poucos meses se divertir com um jogo simples de esconder e revelar um objeto, ou mesmo de atirar objetos para que alguém lhe devolva e ele torne a atirá-lo longe novamente. Esse movimento, essa troca com uma outra pessoa que se envolva no jogo também, é fundamental para que o mesmo vá evoluindo e, com ele, a criança e seu pensamento. É através da brincadeira que as crianças apreendem o mundo à sua volta e expressam seus sentimentos e desejos.


Françoise Dolto (1987), uma importante psicanalista francesa especialista em infância, afirma que “todo jogo é mediador de desejo, traz consigo uma satisfação e permite expressar seu desejo aos outros, em jogos compartilhados”. “Jogos compartilhados”: com quem a criança os compartilha, senão com quem está mais próximo dela, aqueles que se ocupam dos cuidados de higiene e alimentação? Os pais e/ou os cuidadores.


Freud, já em 1907, faz uma bela comparação entre o processo criativo da criança ao brincar e do adulto nas suas produções artísticas: “poderíamos dizer que ao brincar toda criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade”.


Brincar é um indicativo de saúde, criatividade, desenvolvimento, desejo... quanto mais ricas e diversificadas forem as experiências da criança mais “conexões” elas poderão fazer. Oferecer esta variedade de experiências afetivas e intelectuais é uma forma de oferecer mais ferramentas para ela lidar com a vida presente e futura.


A partir do trabalho com crianças, em especial na fase que chamamos de primeira infância (até os 6 anos de idade, aproximadamente), seja na clínica ou nas escolas, têm-se observado com certa frequência uma dificuldade dos pais relacionada a como brincar com seus filhos. A rotina cansativa de trabalho e os afazeres domésticos, bem como o acesso fácil e atrativo às diversas formas de tecnologias contribuíram para esse advento, afinal os gadgets são tão atrativos para os adultos, quanto o são para as crianças. Além de trazerem consigo a possibilidade de diversão “sem sair do lugar”, apresentam jogos e acesso a tudo na palma da mão, porém, de forma individual, não

existem trocas, nem olhares, nem toque e, muitas vezes, não existe nem tempo de espera.


Acontece que brincar é muito mais do que “apenas passar o tempo” ou “se divertir”. Brincar é contato, é troca, é ação que provoca uma (ou várias!) reação(ões). Além de tudo o que já foi dito, é produzir algo “do nada”, é a possibilidade de ser herói e bandido numa mesma tarde; descobrir tesouros e terras nunca antes exploradas, conhecer lugares e espécies animais e vegetais fantásticos, que existem apenas na imaginação...


O tempo da infância passa rápido e é nesse tempo que nos estruturamos psiquicamente e emocionalmente. Lembramos que tempo não é apenas quantidade, mas também qualidade e para aproveitá-lo da melhor maneira, sugerimos que escute o que o seu filho(a) tem a lhe dizer, mesmo que ele(a) repita a mesma história incansáveis vezes, olhe no olho enquanto conversam; se envolva nas brincadeiras dele(a), aceite o papel que ele(a) lhe designar; Escolha um momento no final de semana para fazer algo que ele(a) escolha; a criança gosta de escutar histórias que os pais viveram na infância, compartilhe com ela! Ensine suas brincadeiras preferidas do seu tempo de criança... Lembre-se: o tempo é agora, não deixe para depois!

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